Pandemia causada pela covid-19 mudou rotina dos educadores
Divulgação/Praia Grande
Pandemia causada pela covid-19 mudou rotina dos educadores


O relógio marcava 7h10 da manhã. O celular estava na posição em cima da mesa. Com a câmera ligada era gravada a saudação matinal logo seguida pelos recados e as atividades a serem feitas. No decorrer da manhã, uma sequência de mensagens devolvia as lições devidamente realizadas. Por fim, a correção e a devolutiva aos alunos acompanhada de uma breve despedida. Os ponteiros registravam 11h00 e, assim, terminava mais um dia de aulas de forma remota.

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A manhã detalhada faz parte da rotina da professora Marilucia Santana Pereira, 46 anos. Diariamente, a docente, que atua na EM Idalina da Conceição Pereira, Bairro Vila Sônia, faz do celular, internet e computador, ferramentas para interagir e ensinar os pequenos do Infantil I e II. Assim como ela, desde abril do ano passado, mais de 55 mil e cerca de 1800 educadores trocaram as salas de aula pelo quarto, cozinha, mesa de jantar e assim continuaram a rotina de ensino-aprendizado.

Para chamar a atenção dos pequenos, Marilucia busca diferentes alternativas para levar aprendizado aos pequenos. Por vezes, com objetivo de trabalhar a ludicidade com os alunos, a docente faz a contação de histórias dando vida ao personagem principal ao se fantasiar de pirata, princesa e outros. “A todo instante buscamos novas estratégias para ensinar. O aluno busca esse algo a mais e a gente se esforça ao máximo para oferecer”.

Mas essa familiaridade com a tecnologia não foi sempre assim. No começo, a docente precisou do apoio dos filhos, de 16 e 21 anos, para entender esse novo universo. Para elaborar as primeiras atividades, os dois auxiliavam a professora a usar as novas ferramentas. Até que um dia “meu filho mais velho virou e disse: ‘Mãe, você precisa aprender!’ Foi quando peguei meu caderno. Fui anotando tudo que eles explicavam e depois, aos poucos, passei a me virar sozinha”, recordou.

Mesmo assim, de vez em quando, Marilucia ainda busca auxílio da família. Além sala/escritório montado exclusivamente para que ela consiga aplicar as aulas, a professora utiliza outros cômodos da casa para usar como fundo na hora de gravar os vídeos. Ambientes como a parede da sala ou o quarto da filha mais nova servem para composição de cenário. Nestes momentos, a docente conta com a caçula para fazer a vez de cinegrafista.

Todos os desafios, realçados ainda mais com as aulas remotas, não substituem o prazer de ensinar. Sentimento esse que a professora carrega consigo há 17 anos. “A gente consegue ensinar de casa. Aprendemos neste último ano! Mas nada se compara a sala de aula. O contato com os alunos. Vê-los chegar e vir nos abraçar, mesmo que neste primeiro momento ainda não seja permitido, mas essa proximidade, essa troca, faz muita falta”, afirmou a professora.

Migração – Desde a última segunda-feira (1º), Marilucia Pereira voltou a experimentar a rotina de sala de aula. Mesmo que apenas com a turma de Infantil II e de forma escalonada. Isso porque, a Secretaria de Educação (Seduc) deu início ao Plano Municipal de Retomada das Aulas Presenciais. Participam desse retorno alunos do Infantil II, 1º, 5º e 9º ano do Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos (EJA), com capacidade de 25% da turma por dia.

Assim como a colega de profissão, Miriam Santos de Jesus, 34 anos, também sente na pele a experiência dessa nova fase do ensino híbrido, com aulas remota e presencial. Professora na EM José Ribeiro dos Santos Cunha, das turmas de Infantil I e II, a docente está há três anos atuando na rede. Para ela, o início do ano letivo foi mais tranquilo do que a retomada das aulas a distância em abril de 2020. Isso porque, pais, alunos e educadores já estavam familiarizados com essa rotina.

“Entretanto, ainda assim, o desafio de a gente se readaptar ao processo de ensino aprendizado de forma remota continue. Os desafios foram tecnológicos”, enfatizou Miriam de Jesus. “Tive de aprender a gravar vídeos, deixar um pouco a timidez de lado. Além de aprender mesmo, tipo, a melhor forma de fazer a filmagem. Depois, a editar o material, inserir figuras e incrementar as atividades com coisas que chamem a atenção das crianças”.

E para dar início a tudo isso, o primeiro passo foi em arrumar um local para dar as aulas. O cômodo, que antes servia apenas como quarto, ganhou ares de escritório com uma mesa em formato de L. O guarda-roupa recebeu outra função. Passou a funcionar como background onde a professora o cobria com tecido com carinhas de emojis sempre que a docente ia fazer gravações de contação de histórias ou apresentações de atividades.

A preocupação com todos os detalhes tem uma justificativa. Cada peça ou objeto utilizados serviam para chamar a atenção dos alunos. “Porque, senão, eles não ficaram parados, assistindo às atividades, se não tiver algo que segure a atenção deles. Preciso ter essa sensibilidade. Ainda mais a turma desse ano, que ainda não me conheciam pessoalmente. Nós começamos essa jornada remota esse ano e nos vimos apenas por tela”, explicou a professora.

Aliás, a parte tecnológica, também foi um desafio para a docente da EM José Ribeiro dos Santos Cunha. Para conseguir colocar em prática a arte de lecionar, Miriam de Jesus fez cursos rápidos pela internet para aprender a desenvolver, de forma simples, jogos educativos e pedagógicos. Além disso, a professora também foi atrás de conhecimento para realizar pequenas edições em vídeos, colocando um fundo diferente, por exemplo.

“Aos poucos fomos aprendendo a ensinar a distância. Hoje, posso dizer, que sabemos como chegar até eles. Mas nada substitui o contato presencial em sala de aula”, completou a docente. “E só alcançamos os alunos em casa, graças ao apoio dos pais. Pois eles foram fundamentais para a continuidade do processo de aprendizagem. Agradeço o apoio dessas famílias que fizeram todo o acompanhamento, nos apoiando nessa caminhada”.

Apesar de dar início ao Plano Municipal de Retomada das Aulas Presenciais, alguns profissionais ainda não retornaram a rotina escolar. Na primeira fase, voltaram às salas de aulas alunos e docentes do Infantil II, 1º, 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Educadores do Infantil I, 2º, 3º e 6º anos do Fundamental regressam na segunda etapa do Plano, previsto até o momento para começar em 5 de abril. O último grupo de profissionais da educação será acionado na terceira fase, que deve iniciar em 3 de maio, formado por professores dos 4º, 7º e 8º anos, do Fundamental, e da Educação Especial.

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